Al Gore e Tim Berners Lee defendem liberdade na internet.
Se for preciso, as pessoas devem sair às ruas para defender a liberdade da internet. A convocação veio de Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, e do programador do sistema da internet moderna, Tim Berners Lee, nesta terça-feira (18), durante a Campus Party, em São Paulo.
Gore, que é considerado um dos pais da internet por viabilizá-la politicamente, ainda disse que é importante que os governos mantenham seus dados abertos a fim de os cidadãos poderem desenvolver ferramentas.
- Imagine como seria fantástico se soubéssemos onde estão os focos de poluição do país e dar essa informação para pessoas como os campuseiros [apelido dos participantes da Campus Party] aqui presentes. Estou certo de que várias soluções seriam criadas. Mas esse é só um exemplo. As aplicações para dados abertos são infinitas.
Porém, quando questionado sobre o site Wikileaks, que desde o final do ano passado publica correspondências secretas dos diplomatas norte-americanos, Gore saiu pela tangente. Ele disse “ter ouvido falar” que os vazamentos são ilegais.
- Não sei se é ilegal ou não, mas é certo que essa abertura de dados deve vir de acordo com a lei.
O ativista norte-americano disse que é possível uma verdadeira revolução educacional com a internet com as informações abertas.
- Estamos em um momento importante da humanidade. É preciso lutar para que a internet seja livre e seja usada de maneira sábia.
A liberdade da rede foi colocada em xeque no ano passado de diversas formas. Além de países como China e Coreia do Norte censurarem a rede em seu território, houve a polêmica da neutralidade da rede.
Uma rede neutra é aquela que busca dados e informações de maneira igual. Ou seja, a internet do usuário carrega na mesma velocidade e com a mesma prioridade um arquivo de imagem ou de texto.
O Google e a Verizon, uma das operadoras mais importantes do EUA, fizeram um acordo no ano passado que pôs em dúvida a neutralidade da rede. Isso levantou suspeitas se os sites do Google iriam passar a carregar mais rápido nas redes da Verizon. Os favoráveis a esse controle da internet dizem que essa seria uma forma de se combater a pirataria – sites de conteúdo ilegal iriam passar a carregar mais vagarosamente. O caso não foi explicitamente citado pelos debatedores, mas por três vezes foi citado que a internet deve permanecer neutra.
Lee disse que ninguém tem o direito de dizer o que devemos consumir em um site ou como. O especialista ainda disse que seria temerário ter uma empresa analisando os tipos de dados que acessamos.
- Imagine uma empresa vendo que buscamos na internet informações sobre câncer. Esse dado poderia ser vendido e várias companhias de saúde iriam começar a nos importunar.
Para ele, se alguma empresa tentar controlar o conteúdo da internet, as pessoas devem buscar o governo. Se o governo tentar censurar a rede, é preciso sair às ruas e protestar.
- Se for preciso, saiam as ruas, mas não deixem uma instituição centralizadora controlar o que vocês devem ou não fazer.
Gore disse que está de acordo com o ponto de vista de Lee.
A Campus Party é um evento que reúne cerca de 6.800 geeks – como são chamados os aficionados por tecnologia – ao redor de palestras, oficinas e conexões velozes de internet. A maioria dos participantes acampa por uma semana no local. São Paulo recebe pela quarta vez o evento neste ano entre os dias 17 e 23 de janeiro.
Al Gore foi vice-presidente dos Estados Unidos durante a gestão Bill Clinton, entre 1993 e 2001. Em 2006, lançou o documentário Uma Verdade Inconveniente, vencedor do Oscar. Nesse mesmo ano venceu o prêmio Nobel da Paz. Gore é considerado pai da internet por ter dado suporte político para a nova rede.
Tim Berners-Lee é considerado um dos país da internet moderna por ter criado o seu sistema. No início dos anos 90 criou a o sistema da World Wide Web, representado no tradicional "www" que fica na frente da maioria dos endereços de sites. É formado em física pela Universidade de Oxford.